sábado, 19 de março de 2011

Girls talk 2


- Eu sou casada, mas eu adoro estar sozinha! Eu preciso do meu tempo, gosto de ler o meu livro, fazer as minhas coisas, sou casada há oito anos mas só é possível manter o que temos porque o meu marido viaja muito! Se ele não viajasse eu tenho a certeza que já estava divorciada!
- Ah! Ah! Ah!
- Tu estás a rir de quê? Eh pah, ELE não devia estar aqui!
- Sim, nesta conversa de mulheres um homem não tem lugar!
- Vai embora…
- Tapa os ouvidos!
- Não… eu não digo nada! Ai, se eu ouvisse o que oiço aqui há 10 anos…
- Vês, eu acho que é pena termos de sentir assim, eu descansar quando o meu marido viaja? Melhor estar sozinha!
- Sozinha? Eu preciso de um homem….
- Sim, eu também, mas para as coisas que se precisa sempre se arranja!
- Sim, concordo contigo!
- Sim, ela sempre fala desta teoria….
- Sim então somos duas, em concordo com ela!
- Concordas com a teoria da keca mágica?
- Como é isso?
- Então, nós damos uma keca e depois ele – estala os dedos – desaparece!
- Mas vocês, como têm coragem? Então acho que nós estamos igual ou pior que os homens!
- Mas porquê? No fundo somos iguais. Eles não apanham uma tusa? Nós também! Vamos fingir que não? Mas acho que somos mais inteligentes e separamos as coisas.
- Mas dá para separar?
- Mas claro que dá!
- Não, desculpem, broncos não! Para mim um homem tem de ter conteúdo!
- Tem? Mesmo? E não apanhas tusa por quem não tem conteúdo nenhum? Falo do plano físico apenas, ele também existe para nós!
- Mas depois… falam sobre quê?
- Mas estamos a falar de conversa? Ou de acção?
- Um bronco pode ser muito bom para acção…
- Sim… meninas há departamentos! Cada coisa é uma coisa, há pastas, cada pasta tem um ficheiro, usa-se, anexa-se! E pode ir-se lá buscar de novo determinado processo, sem problemas!
- Ai, se eu ouvisse o que oiço aqui há 10 anos…
- Tu, tapa os ouvidos!
- Eu não consigo com homens muito mais novos…
- Ah! E mais velhos? Nada! Homens a partir dos 50 malucam! Isto está provado! Eu não estou a brincar pah!
- Mas muito novos… eu não consigo. Um homem que me liga a convidar para sair? Uma pessoa com 28 anos? Pensa o quê? Eu só lhe disse “tens idade para ser meu filho”, ele respondeu com simplicidade “mas não sou”.
- Ah! Ah! Ah! Mas tem razão! Eu acho que devias avançar, que importa isso da idade?
- Talvez tenham razão, agora aqui a ouvir a nossa conversa… é preconceito meu. Idade não importa…
- Importa! Homens a partir dos 50 ficam loucos! Não há mais nada a dizer, está provado! Por isso eu a partir dos 40 nem pensar! Nada.
- Mas tu um dia vais ter 50 anos!
- E então? Eu não sou homem, e arranjo um mais novo!
- Sim, há muitos por aí.
- Há muitos homens sim, não há falta.
- Homens solteiros não há…
- Isso é outra questão…
- Sim, há não-casados…
- Não, é igual! Porque todos têm compromisso com alguém, namorada, pita, mulher, qualquer mulher na zona eles têm!
- Sim… bom, homens casados é outro departamento…e aí vamos ao tema casa dois… que é tema muito longo.
- Eu prefiro ser casa dois! E ter um homem interessante, que cuida de mim, que me dá o que eu necessito, que me preenche…
- E que tem outra relação…
- Sim! Mas eu sei dessa relação, e aceito, e estou com ele, saio com ele, vamos às festas juntos… Claro, não nos beijamos na boca em público! Mas temos uma relação.
- Ya… eu casa dois… complicado… fui tratada como casa dois uma vez e detestei!
- Mas o que é isso de ser tratada como casa dois?
- Eh pah, tu tens homens com quem tens relações íntimas, eles vêem-te na rua e não te cumprimentam??!!
- Ya, isso não é nice…
- Sim, há homens que fazem isso…
- Eu não vou lá beijá-lo, mas se tenho uma relação íntima com uma pessoa quero que ela me respeite, e isso não é respeito…
- Sim… não é…

quinta-feira, 10 de março de 2011

Girls talk

- Sabes que eu disse ao teu ex “hoje a tua ex-mulher vem jantar a minha casa, e sabes o que ele respondeu? Qual delas? O estúpido…”
- Sim, mas não te preocupes eu também tenho uma pergunta para te fazer, qual dos meus ex?
- Ah! Ah! Ah! Ah! Sim, tens razão! Sabes q ele veio aqui uma vez com uma dessas… uma dessas meninas. E sabem como eu sou, sempre falo dessas… meninas, então para mim ter na minha mesa uma dessas pessoas, assim uma das “próprias” foi…. Eu não sabia o que dizer! Bom, ela também não, as duas vezes que abriu a boca..
- Era melhor que a tivesse mantido fechada?
- Ah! Ah! Ah! Sim!
- Mas porque é que os homens andam com estas mulheres pah?!
- Eles não querem mulheres como nós, sofisticadas, com exigências, com personalidade, eles querem…
- Uma mulher de quatro? Mas então é só isso!?
- Sim, nós somos muito complicadas para eles, não aguentam!
- Eu tenho um que diz mesmo isso, que agora do que gosta é mesmo do quintal! De ir buscá-las lá às traseiras, nada mais.
- Ok, todo bem a pessoa pode gostar mas..
- Sabes, eu acho que se queremos manter os nossos homens às vezes temos de fazer esse jogo mesmo!
- O qual? De me baixar ao nível dele? Nada, nunca vai funcionar!
- O problema não és tu, são eles, mesmo que tu sejas tudo, sempre vão procurar coisas fora! Sempre!
- Sim, eu já fiz isso de ir fazer as coisas que o senhor gostava, e não falo de problemas de cama porque eu considero-me muito aberta nesse campo! Mas… eu aguentava coisas… era um tipo desses assim, sem critério!
- Sim, eu acho que o meu ex pode andar com quem quiser mas no fundo quando o vejo com essas fico a pensar o que é que estava a fazer comigo! Porque a coisa não liga…
- Sim, é humilhante para nós!
- É no mínimo estranho. O que é que ele fala com ela quando estão sozinhos? Não pensam nisso? Eu penso…. Ok, de quatro tudo bem, mas é só, depois não conversam mais nada?
- Mas sabes que eu isso até acho normal, tudo bem keka é keca, mas na verdade se eu ando com alguém para isso depois eu não vou trazer essa pessoa para me acompanhar a tua casa!
- Sim, não o levo às festas!
- Nem aos restaurantes!
- Sim, porque parece que têm orgulho de se exibir assim!
- É ridículo, mas homens não vêem!
- Mas como assim, tu tens mas não trazes a minha casa!? Então consideras que pode haver esse tipo de relação?
- Mas claro, as coisas não são só um lado, nem tudo é para casar!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Conto de lua cheia


Hoje está calor, muito calor.
Ela dirige o carro e ele senta-se ao lado, já é a cerveja preta que fala, e ela, apenas porque hoje bebeu água, não questiona, apenas escuta, seguindo os caminhos sem resistir, apenas a ver o que dá, onde vai, como é a maré.
- Vira à esquerda, ok, de novo aqui, aqui, estaciona láaaaaaaaaaaa, ao fundo. – fala com o guarda - Chefe, não tem maneira de descer aqui agora?
- Nada, aqui não tem.
- Tem, chefe é que não quer nos mostrar!
- Tem, mas,,. Vão cair ali, senhora vai cair.
- Esta? Chefe… - começa a falar em xangane e ela a partir daqui já não entende o que dizem, mas entende a linguagem corporal claro, entende os risos cúmplices, com certeza – falam dela.
Descem para a areia e ela olha apenas a lua, enorme, laranja, redonda, sobre água calma. À esquerda esta paisagem – o rastro de prata bem marcado na água - do lado direito relampeja sobre os prédios e as nuvens ameaçam o céu de tempestade africana – morna, precipitada, odorosa, intensa, desorganizadora.
Ela caminho para a água, está morna. Caminha e vai subindo a capulana, mais, e mais, e mais… A água está quente.
Sente algo a enrolar-se nas pernas e sai da água:
– Ei! É aqui que se lavam os espíritos, aqui não se toma banho, não sabes que essas energias dos espíritos ficam aqui? Lavam tudo nesta água! E depois? Quem limpa a própria água dessas lavagens?
Mas hoje a água chama e ela entra sem hesitar. Está quente… boa.
Caminham juntos, caminham até ao pontão. Um ponto fálico feito de pedras, que entra na água morna do indico. Um falo que é molhado e batido de ondas espumosas e brancas.
Avançam, os limos e musgos ameaçam escorregar os pés, ela descalça-se. A pedra está quente, as ondas molham como salivas.
Ele caminha ao seu lado. Chegam quase ao final do pontão, onde a água cobre sempre a pedra.
Ele aproxima-se mais:
- Sabes o que eu disse ao guarda?
- Hum?
- Que te ia comer aqui mesmo, dei-lhe 60 paus para nos deixar passar.
- Não disseste! Oh pah, tu… - ele cala-a com um beijo. Aproxima-se mais.
Amam-se. Não importa se alguém vê, não importa se aqui nesta cidade não se abraça na rua, se é atentado ao pudor ou falta de vergonha, se é ilegal ou imoral. Eles amam-se assim mesmo, dentro da natureza. O avançar do pontão dá uma vista… panorâmica, a sensação é de exposição e secretismo ao mesmo tempo.
Estão expostos, claro, os carros que passam na marginal abrandam, ou se calhar nem se vê nada…
A cidade está atrás deles, como uma câmara de eco, e ela gemo, geme de olhos no horizonte, recebendo as brisas das índias.
O toque sensual da brisa é misturado pela força telúrica da penetração por debaixo da capulana que ela usa como uma white usa o material local – por exotismo.
Ela não pensa em nada, a força da terra está aqui, a energia da água salgada que é purificação e vida, a pedra quente e a chuva que já perfuma o ar e ameaça cair. Ela sente-o por detrás, estão de pé – em equilíbrios e desequilíbrios na rapidinha aluada.
As energias que convergem aqui são muitas. Depois do amor ela acocora-se e deixa a água entrar. As ondas molham de novo as mais escorregadias zonas. A capulana molhada cola-se ao corpo e só agora ouvem as rezas. Na praia eles fazem o círculo, falam a deuses ou esconjuram demónios, não se percebe. Não sabem o que lhes chamam, aos que acreditam que os abençoam ou amaldiçoam. Não sabem a que energias falam, mas no fundo são todas a mesma…
Eles avançam sem medo, mas com receios. A fé organizada, dá azo a fundamentalismos… sabe-se lá o que pensam e o que vêem assim na claridade de uma noite de lua.
Ela apanha do chão os chinelos, avançam de novo pela areia, os pés molhados.
Ele olha-a com incomum ternura:
- Sabes que acho que hoje fizemos a Malaika? – é mania de homem africano isso de sempre querer encher barriga, mas ela, que discute sempre, hoje sorri:
- Quem sabe fizemos?
- Na ku penda Malaika.
E ela que pode dizer?
- Na ku penda.