sábado, 11 de junho de 2011

Mestre índia III


Os mosquitos são tão grandes que eu os consigo sentir a poisar na minha pele, pata a pata.
Mestre não foi sempre mestre:
- Eu quando estudava em kalamandalam – a mais importante escola de kathakali de kerala - praticávamos footsteeps das 4 as 6 da manha, nós antes de levantar rezávamos para que falhasse a luz!!
Mas aqui não sei, não sei quando vivo de facto uma paisagem de sonho ou quando perco a consciência nos rituais sagrados.
- Estou a limpar, as casas aqui são sujas!
- Mas, se varres muito acho que o país desaparece…
Índia é feita de pó. Do desumano, não físico pó.
O pó que cobre as pessoas, o pó que assinala na testa o terceiro olho, em cinzas, em pigmentos coloridos.
Índia é espiritualidade, e não importa se ela molda todos os hábitos dos homens, impossível que o faça, mas ela está presente todos os dias, na vida deste povo. Ela acontece na prece matinal ao altar de Shiva, de Vishnu, de Ganesh.
Nós acreditamos.
E acho que aqui o “não sei” vai juntos com “acredito” aqui, nesta parte do mundo mais do que em qualquer outra.
“Se varres muito o país desaparece.”
O lixo amontoa-se na beira da estrada.
- Sim, mas tu estás habituada!
- Não, nós nunca nos habituamos ao lixo.
Na casa a porta está aberta, uma criança brinca com um pedaço enorme de jaca.
Um sari voa da janela, a mulher corre e sorri para mim, o brinco no nariz parece que brilha mais.
Junto ao cabelo, na zona da testa onde os cabelos se separam, acima do 3º olho uma marca de pigmento vermelho, é casada a mulher.
Aqui, no sul da índia, é assim.
Comemos a refeição na folha de bananeira e inevitavelmente o olhar pára nos canais de água verde, de plantas flutuantes.
Chove, a luz doirada do anoitecer embeleza os campos de Kerala.
- Chaia? (chá)
Porque o espírito respira mais aqui, ocupa-se mais de tempos e rituais de mãos, de mudras, de pigmentos sagrados, de águas purificadas, de fogos purificadores.
Aqui oferecemos aos deuses arroz doce, que partilhamos com os pobres, que despejamos no chão para que os corvos e os cães também deles se saciem.
Índia é mistério na sua rigidez e codificação. É marcado hinduísmo na fronte das mulheres e dos homens, em marcas de cores, branco, negro, vermelho. No passo atrapalhado de saris e saias. Nos cabelos oleados de côco…
Aqui o caril pica, sim, o chá queima, o açúcar enjoa.
Aqui o calor e a humidade marcam na pele seu cheiro inconfundível.
Aqui todos seguimos um guru, a mãe índia orienta o caminho e todos somos espirituais.
Índia são quatro castas, quatro estádios da vida, quatro deveres do Homem.
E para mim tudo na índia obedece a quatro momentos, primeiro questiono, depois deslumbro-me, depois desconfio, e finalmente… aceito.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mestre índia II


Não é um choque para quem vive em África mas os meus dias começam cedo. No caminho para o kalari – esta palavra significa na sua origem “campo de batalha”, mas aqui é usada para designar a escola, o espaço onde aprendo - passo pelo templo a Ganesh:
- When you see a temple, you worship!
Eu assim faço. Entro no templo devagar, uma mulher que faz grinaldas de flores aproxima-se de mim:
- Where from?
- Moçambique. I mean… Portugal. - eu nunca sei bem de onde sou.
- Aaaaaaaah! Namaskaram!
Namaskaram é a saudação aqui, na língua Malayalam.
Aproximo-me do altar com a imagem do deus com cabeça de elefante, filho de Shiva e Parvati, o “abridor de portas”, o “destruidor de obstáculos”. Olho para as cores e os adornos, são belíssimas as estátuas dos deuses hindus.
- When you see a temple you worship!
I do. Sentado num palco um homem entoa mantras e queima madeira. Eu fico um pouco a observar, fecho os olhos. Chamam a este lugar “God’s own country”. Eu sinto nas narinas o cheiro doce do incenso. As mulheres à minha frente olham-me e murmuram alguma coisa que não entendo, canto apressadamente o mantra de Ganesh, “Om gum ganapatahye namaha”, preparo-me para sair, a mulher chama-me:
- Madama! Ba! (vem)
Chamam “madama” às estrangeiras, como eu! Ela aproxima-se de mim, molha o dedo numa pasta de pigmento vermelho e desenha uma pinta na minha testa, no espaço entre as minhas sobrancelhas. Sorri.
- Nani. – eu não sei bem o que fazer, mas agradeço.
Continuo o meu caminho para o kalari, atravesso a estrada impossível, os auto-ricksahaws (versão indiana do nosso txopela) são como animais cegos e assustados, qualquer que seja o obstáculo na estrada, seja automóvel, pedra ou peão, nada os faz alterar a velocidade ou mudar de direcção, avançam em linhas tangentes a tudo, e só param mesmo antes do embate.
Caminho lentamente, observando nas pessoas nos seus gestos ritualizados.
Índia é isso, código, em tudo o que acontece.
Hoje é a minha primeira aula. Subo as escadas para a casa do mestre de Kathakali – sim, a escola não é nada mais que uma varanda empoeirada onde o mestre se senta orgulhosamente numa cadeira de plástico.
- Where is your guru dhakshina?
Não faço ideia do que o mestre está a falar, olho à volta a tentar ter algum sinal, analiso cuidadosamente a expressão dele à procura de uma pista, nada. Num canto do kalari há um pequeno altar a Shiva, o deus destruidor, em frente ao altar está uma folha verde com uma espécie de fruto por cima:
- Yes, in your first day of learning you give gift to master. What is your gift?
Eu não faço ideia do que se trata, e dentro de mim apenas penso “vim aqui para aprender, não para ser testada”. A aula começa em 30 minutos, eu vou caminhar ali mesmo, na rua da casa do mestre.
As ruas são estreitas e esverdeadas pelas folhas de bananeira, as casas são bonitas e coloridas, as mulheres caminham de olhos baixos, cobertas de panos brilhantes, que esvoaçam. Os homens olham, as crianças gritam “madama, madama!”
Volto para trás, um menino caminha à minha frente com uma folha verde na mão, apanha do chão uma noz, olha para mim, não sorri. O arranjo que tem na mão é igual ao que vi no altar a Shiva no kalari, apanho do chão uma folha e uma flor, junto-lhe um fruto espinhoso e sigo para a aula.
- Master, here it is… my guru dhakshina?
Ele não sorri, está de pé no meio da varanda empoeirada vestido apenas com um pano que lhe faz de saia, apetece-me rir mas ele tem um ar solene. O miúdo que vi na rua avança à minha frente, de cabeça baixa oferece ao mestre o seu presente, o mestre recebe, o menino toca-lhe os pés, depois leva as mãos ao peito. O mestre está de olhos fechados e toca-lhe a cabeça, deposita cuidadosamente a oferta em frente a Shiva, o deus. Eu avanço meio a medo, repito o ritual… sim, aqui a aprendizagem é feita assim, de testes.
Eu passei o primeiro.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mestre índia


- Tomaste banho? Dormiste a que horas? O que comeste ao jantar? Usaste muito o laptop?
O mestre decide o que acontece, o que eu como, quando como, o que visto, quando visto. O mestre decide como penteio o meu cabelo – apanhado; como são as minhas roupas – largas e longas; como caminho na rua – de sombrinha, olhos no chão e sempre acompanhada… na índia o mestre decide.
Vamos às compras, porque obviamente que a roupa que trago “is not allowed” nas ruas de Kerala, o mestre discute com o vendedor de tecidos o cumprimento da minha túnica, já para não falar das calças enormes que eu vestirei com ela.
Eu tenho de novo 13 anos! É o que sinto aqui.
Eu viajo para aprender, para experimentar, para sair das minhas rotinas, dos meus hábitos, dos vícios do “eu”, pelo menos durante algum tempo.
Por isso eu, embora não entenda as razões, aceito.
É bom exercício para o ego aceitar. Apenas, assim mesmo, sem engelhar a testa ou levantar a voz, apenas aceitar.
Estou na índia a aprender, vim para estudar uma forma de arte muito antiga, das mais antigas do mundo. Estudo Kathakali, uma dança que conta as estórias dos livros sagrados da índia. Uma forma de teatro onde o actor mostra por gestos, por expressões faciais, por intrincados movimentos rítmicos de pés e com a ajuda de complexos figurinos e magnífica maquilhagem, as estórias das invejas dos homens e das protecções dos deuses. Esta forma de arte é originária de Kerala, estado na costa ocidental do Sul da índia.
Esta costa olha um mar, o mar que encontra Moçambique. E, na minha primeira ida à praia eu tenho vontade de chorar.
- Joana, you do not take swim! Not with that dress!!! – eu não vou explicar ao mestre que não tinha intenção de tomar banho com o meu vestido de algodão bordado de brilhantes, não, porque para mim, lá de onde venho, o banho de mar é coisa especial, sagrada e despida de tudo o que o homem inventou. Mas vim aqui para aprender, para experimentar não ser eu, aceito.
De pés mergulhados na água morna do indico, de calças XXL pesadas pela água, eu fecho os olhos e sinto Moçambique, láaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, na outra margem.
- Are you praying? – eu não sou religiosa, mas sim, talvez o mestre tenha razão, é quase isso o que me faz pôr as mãos no coração, fechar os olhos e sentir Moçambique.
- I like that. Tourists do not do that. There are many tourists here, but I think you are not one.
- Me? No...
- Promise?
Não ser turista é caminhar no conforto desse outro povo que visitamos, mesmo que seja o nosso desconforto.
Aqui é sentar no chão, invariavelmente sujo, e comer, com a mão, ainda desajeitada. É beber água quente e amarela (jeera gum) quando nos apetece água mineral com gelo. É mudar no corpo as vestes, vestir punjab exagerado ou saree complicado, quando nos apetecia um bikini. É na boca mudar os gostos, incendiar no estômago os apetites. É talvez mesmo mudar os desejos da mente. Sim, isso principalmente.
E eu? Prometo que vou conseguir?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Made in india


Sim, estou na índia. Escrevo tantas vezes sobre o quanto é bom esta saída. E não falo deste destino em particular falo da saída da zona de conforto.
Sim, há o medo, claro, o desconforto inquietante da insegurança constante. Mas claro que é ilusório. Não este desconforto com sabor a nómada, mas o conforto que o sedentarismo nos dá, esse é que na verdade não existe.
E por isso eu gosto de viajar, de mudar de lugar, de agitar nos passos as certezas do sofá, da televisão, da água quente na torneira, do matabixo habitual na mesa.
Estava há uns anos em Portugal e numa daquelas viagens de itinerância de espectáculos em que toda a companhia dorme em hotel, na primeira noite queixava-se um dos actores “é pá esta noite foi difícil, estranhei a cama, eu não consigo dormir sem a minha almofada”, e a mim dava-me vontade de rir.
O homem é feito de hábitos, sim, mas o mundo muda todos os dias, nós mudamos, os nossos sentimentos não são estáveis, as emoções oscilam e as relações alteram-se. Assim mesmo, todos os dias. Eu não sou a mesma pessoa a quem disseste “gosto muito de ti e das tuas loucuras”, claro que não sou.
E podemos dizer que não temos medo, assim mesmo, não temo viajar, entrar no inseguro avião, enfrentar os desconhecidos perigos das cidades misteriosas para mim.
Eu viajo sim, no caminho que ainda não pisei e me faz tremer os passos.
Como no primeiro encontro com um homem com quem sonhei noites, em expectativa, eu tremo.
Antes de ir não sei bem o que vestir, troco três vezes de saia e penteio os cabelos como se os tentasse domar. E quando chego não sei se olhe nos olhos, não sei se aperte a mão ou lhe beije ao de leve a face.
Chego à índia, primeiras horas no destino que desconheço, são preciosos os primeiros contactos.
Não é obra do destino não, mas no avião encontro um ex-amor e logo ali se lavam os desentendimentos, se cavam as distâncias das culpas. Para quê? É inútil quando no fundo ali só vivem as dúvidas, aquelas que ainda não estamos prontos para responder.
Viajo para aprender. E é agora o momento de viajar. Agora que o meu dia-a-dia me confirma as escolhas: os vizinhos aceitam já a minha maneira abusada de parquear o carro; no caminho para o trabalho já não vejo as acácias vermelhas; na esquina onde bebo com as amigas já nos servem “o habitual” sem perguntar… é quando nos sentimos assim, em casa, que é momento de viajar, de sair, de arriscar.
Eu saio. Saio com o amortecimento macio dos amigos que se despedem, dos alunos que choram, dos colegas que nos sentem a falta
Carrego apenas um saco com pouco mais de 10 quilos de… “coisas”. Para viajar um ano carga tão leve parece prova de desprendimento, mas viajo de coração cheio. E agora sei que com um coração cheio we do not travel light.
Diziam os amigos:
- Vais ter com os monhés?!
- Vais voltar a cheirar a caril pah!
- Vê lá keep in touch não fiques matreca!
- Fazes parte das minhas “amigas om”, que se dedicam a essas coisas das meditações, vê lá se não malucas pah!
- Eu não percebo esse teu deslumbre por um povo que divide os seus em castas!
- Não ofereças os cabelos a Shiva e voltes careca pah!
Digo muitas vezes que Moçambique é minha casa, que em lugar nenhum até agora me senti tão confortável... Entro na índia com a memória forte desse calor, e, embora o plano seja estudar no Sul do país com um mestre indiano eu apanho um avião para Norte e vou encontrar com… moçambicanos.
É para mim deliciosa a visão de um hotel cheio de africanos, aqui, na capital da Índia. Amortecem-me mais uma vez a queda, os caminhos misteriosos dos afectos.
Sim, eu sou dada a estas coisas: espíritos, energias, sinais e xikwembo. É da minha natureza olhar sorridente estes encontros do corpo físico pelas energias etéreas do mundo.
Escrevo. Sim, escrevo sem pensar em ti talvez, acreditando apenas que isto que me toca cá dentro te pode também tocar… aí dentro, na zona do te corpo que mais responde a maia, a energia subtil do universo.
Mas nos primeiros momentos em lugar novo é apenas assim, vemos as coisas acontecerem e não as entendemos. E são estas as armadilhas dos aviões, em menos de 10 horas eu mudo completamente de clima, de língua, de contexto cultural… tropeço no tempo e no espaço, e pelo menos para mim, é… tão brusco. Este momento aqui, o das primeiras horas num destino novo, é tempo apenas de leitura e de adaptação. O corpo não físico ocupa-se bem assim, mas o corpo físico não pode ficar suspenso esse tem de agir, né? Tem de existir.
E o meu existe.
Depois do jantar beijamo-nos no elevador do hotel.
Acordo às 3 da manhã deitada numa posição impossível na cama branca, por uns momentos não sei onde estou. Sinto-me sem dúvida em Moçambique. Acho que bebi demais…
As despedidas são isso mesmo, não acontecem quando eu decido.
Diziam os amigos:
- Yuh! Vais para a índia??!! Nada, paaaah tu já não voltas!
Mas, eu? Na verdade acho que ainda não daí saí!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Girls talk “not alowed”


Em Moçambique:
- Ex-namorado é como vestido velho, quando olhamos nos questionamos: como é que eu fui capaz de um dia sair à rua com isto?
Na índia:
- Joana, posso perguntar-te uma coisa?
- Sim.
- Tu… já alguma vez beijaste alguém?
- Eu? C’mon! Claro que… quer dizer… hummm… sim. Porquê?
- Eu nunca beijei ninguém. Eu acho que é errado.
- Porquê?
- As pessoas dizem que é errado.
- E o que é que tu sentes?
- É errado. Eu acho que é.
- Ok…
Na marginal de Maputo:
- Sim, homem é como montra, roupa nova, acessório… tem coisas que nunca nos ficaram bem, nunca nos serviram, forçámos as mangas, os tivemos de subir tanto as bainhas…. Mais valia compra outro modelo!
- Mas nós às vezes insistimos!
- Somos burras mesmo! Ysh! Amiga, já viste? Hoje não há nada de interessante.
- Yap, está num daqueles dias que nem dá pena não ter taco!
- Mas amiga, sabes que nas compras, às vezes tem de se dar um desconto. Olha aquele damo ali de jeans!
- Desconto? Querida eu desde há um tempo que estou em liquidação total mesmo! Pede lá contacto!
Ao fim do dia à beira do rio em Alephey:
- Na tua terra é permitido uma rapariga caminhar com um rapaz a esta hora?
- Claro! Não tem problema!
- Com um amigo?
- Com um amigo, um namorado, o que quiseres!
- Mesmo uma mulher que não seja casada?
- Claro! Aqui não?
- NÃO! it is not allowed!
Sim, estou de viagem, levo xikwembo a outras latitudes, para me perder noutro continente. Como se diz em Moçambique vou com dos “v”, vou e volto.
Vou para viver outra vida, com outras referências, diferentes práticas, novos cheiros e definitivamente outros papos… acabo de chegar, ainda a experiencia pinga a gota gota na escrita, ainda vivo e escrevo sem o tempo do pensar. Ainda, como acontece quando se viaja de avião, ainda tenho na mala o cheiro do baía de maputo, ainda não me entrou nos cabelos o jasmin indiano. E talvez por isso a mente viaja sempre em comparações, nas inevitáveis medidas do pensamento e do desejo do povo orgulhosamente “made in mozambique”:
- Sabem, uma prostituta disse-me uma vez “tens bom material mas não o usas!”
- Ah! Ah! Ah! A sério?
- Ya… mas eu acho que ela foi nice, porque podia só ter feito o que tinha a fazer e não comentar, mas ajudou-me, eu a partir daí comecei a pensar mais no que fazia…
- Hardware e software!
- Yap! Isso é bom tema!
- Sim todos falam das questões dos tamanhos! Claro que importa pah!
- Ya, importa!
- Claro!
- Importantíssimo!
- Ahahahahahah!
- Mas não pensem que basta ter tamanho! Aaaaaaaaaaaaaah! Sem técnica isso tudo não anima pah!
Na índia:
- Eu estou a pensar num amigo…
- Um amigo?
- Sim, especial…
- Um namorado?
- Não, isso “not allowed”!
- Ok… então? Conta.
- Este meu amigo quer amar-me…
- E tu?
- Eu amo os meus pais mais… não posso aceitar.
- Mas… são diferentes tipos de amor..
- Não aqui. Not allowed.
Sim… eu agora estou na índia, em Moçambique celebrou-se recentemente o dia da mulher moçambicana e eu aqui, sentada no chão da varanda a falar com Lakshmi sobre o amor… amor que a ela não é permitido sentir…
- Tu tens saudades de alguém?
- Eu? Sim…
- De um namorado?
- De um amigo… especial. Sabes o que é?
- Não sei.. acho que não sei… Mas na tua cultura é diferente…
- Sim.
Qual é que tu achas que é melhor?
- Eu… não sei. Eu respeito ambas e… entendo ambas.
- Ok…
- E tu?
- Eu acho que a tua cultura é errada, porque vocês têm um namorado, depois teem outro e isso não está certo!
Hummmm… sim, eu acho que já tenho saudades de Moçambique!

sábado, 19 de março de 2011

Girls talk 2


- Eu sou casada, mas eu adoro estar sozinha! Eu preciso do meu tempo, gosto de ler o meu livro, fazer as minhas coisas, sou casada há oito anos mas só é possível manter o que temos porque o meu marido viaja muito! Se ele não viajasse eu tenho a certeza que já estava divorciada!
- Ah! Ah! Ah!
- Tu estás a rir de quê? Eh pah, ELE não devia estar aqui!
- Sim, nesta conversa de mulheres um homem não tem lugar!
- Vai embora…
- Tapa os ouvidos!
- Não… eu não digo nada! Ai, se eu ouvisse o que oiço aqui há 10 anos…
- Vês, eu acho que é pena termos de sentir assim, eu descansar quando o meu marido viaja? Melhor estar sozinha!
- Sozinha? Eu preciso de um homem….
- Sim, eu também, mas para as coisas que se precisa sempre se arranja!
- Sim, concordo contigo!
- Sim, ela sempre fala desta teoria….
- Sim então somos duas, em concordo com ela!
- Concordas com a teoria da keca mágica?
- Como é isso?
- Então, nós damos uma keca e depois ele – estala os dedos – desaparece!
- Mas vocês, como têm coragem? Então acho que nós estamos igual ou pior que os homens!
- Mas porquê? No fundo somos iguais. Eles não apanham uma tusa? Nós também! Vamos fingir que não? Mas acho que somos mais inteligentes e separamos as coisas.
- Mas dá para separar?
- Mas claro que dá!
- Não, desculpem, broncos não! Para mim um homem tem de ter conteúdo!
- Tem? Mesmo? E não apanhas tusa por quem não tem conteúdo nenhum? Falo do plano físico apenas, ele também existe para nós!
- Mas depois… falam sobre quê?
- Mas estamos a falar de conversa? Ou de acção?
- Um bronco pode ser muito bom para acção…
- Sim… meninas há departamentos! Cada coisa é uma coisa, há pastas, cada pasta tem um ficheiro, usa-se, anexa-se! E pode ir-se lá buscar de novo determinado processo, sem problemas!
- Ai, se eu ouvisse o que oiço aqui há 10 anos…
- Tu, tapa os ouvidos!
- Eu não consigo com homens muito mais novos…
- Ah! E mais velhos? Nada! Homens a partir dos 50 malucam! Isto está provado! Eu não estou a brincar pah!
- Mas muito novos… eu não consigo. Um homem que me liga a convidar para sair? Uma pessoa com 28 anos? Pensa o quê? Eu só lhe disse “tens idade para ser meu filho”, ele respondeu com simplicidade “mas não sou”.
- Ah! Ah! Ah! Mas tem razão! Eu acho que devias avançar, que importa isso da idade?
- Talvez tenham razão, agora aqui a ouvir a nossa conversa… é preconceito meu. Idade não importa…
- Importa! Homens a partir dos 50 ficam loucos! Não há mais nada a dizer, está provado! Por isso eu a partir dos 40 nem pensar! Nada.
- Mas tu um dia vais ter 50 anos!
- E então? Eu não sou homem, e arranjo um mais novo!
- Sim, há muitos por aí.
- Há muitos homens sim, não há falta.
- Homens solteiros não há…
- Isso é outra questão…
- Sim, há não-casados…
- Não, é igual! Porque todos têm compromisso com alguém, namorada, pita, mulher, qualquer mulher na zona eles têm!
- Sim… bom, homens casados é outro departamento…e aí vamos ao tema casa dois… que é tema muito longo.
- Eu prefiro ser casa dois! E ter um homem interessante, que cuida de mim, que me dá o que eu necessito, que me preenche…
- E que tem outra relação…
- Sim! Mas eu sei dessa relação, e aceito, e estou com ele, saio com ele, vamos às festas juntos… Claro, não nos beijamos na boca em público! Mas temos uma relação.
- Ya… eu casa dois… complicado… fui tratada como casa dois uma vez e detestei!
- Mas o que é isso de ser tratada como casa dois?
- Eh pah, tu tens homens com quem tens relações íntimas, eles vêem-te na rua e não te cumprimentam??!!
- Ya, isso não é nice…
- Sim, há homens que fazem isso…
- Eu não vou lá beijá-lo, mas se tenho uma relação íntima com uma pessoa quero que ela me respeite, e isso não é respeito…
- Sim… não é…

quinta-feira, 10 de março de 2011

Girls talk

- Sabes que eu disse ao teu ex “hoje a tua ex-mulher vem jantar a minha casa, e sabes o que ele respondeu? Qual delas? O estúpido…”
- Sim, mas não te preocupes eu também tenho uma pergunta para te fazer, qual dos meus ex?
- Ah! Ah! Ah! Ah! Sim, tens razão! Sabes q ele veio aqui uma vez com uma dessas… uma dessas meninas. E sabem como eu sou, sempre falo dessas… meninas, então para mim ter na minha mesa uma dessas pessoas, assim uma das “próprias” foi…. Eu não sabia o que dizer! Bom, ela também não, as duas vezes que abriu a boca..
- Era melhor que a tivesse mantido fechada?
- Ah! Ah! Ah! Sim!
- Mas porque é que os homens andam com estas mulheres pah?!
- Eles não querem mulheres como nós, sofisticadas, com exigências, com personalidade, eles querem…
- Uma mulher de quatro? Mas então é só isso!?
- Sim, nós somos muito complicadas para eles, não aguentam!
- Eu tenho um que diz mesmo isso, que agora do que gosta é mesmo do quintal! De ir buscá-las lá às traseiras, nada mais.
- Ok, todo bem a pessoa pode gostar mas..
- Sabes, eu acho que se queremos manter os nossos homens às vezes temos de fazer esse jogo mesmo!
- O qual? De me baixar ao nível dele? Nada, nunca vai funcionar!
- O problema não és tu, são eles, mesmo que tu sejas tudo, sempre vão procurar coisas fora! Sempre!
- Sim, eu já fiz isso de ir fazer as coisas que o senhor gostava, e não falo de problemas de cama porque eu considero-me muito aberta nesse campo! Mas… eu aguentava coisas… era um tipo desses assim, sem critério!
- Sim, eu acho que o meu ex pode andar com quem quiser mas no fundo quando o vejo com essas fico a pensar o que é que estava a fazer comigo! Porque a coisa não liga…
- Sim, é humilhante para nós!
- É no mínimo estranho. O que é que ele fala com ela quando estão sozinhos? Não pensam nisso? Eu penso…. Ok, de quatro tudo bem, mas é só, depois não conversam mais nada?
- Mas sabes que eu isso até acho normal, tudo bem keka é keca, mas na verdade se eu ando com alguém para isso depois eu não vou trazer essa pessoa para me acompanhar a tua casa!
- Sim, não o levo às festas!
- Nem aos restaurantes!
- Sim, porque parece que têm orgulho de se exibir assim!
- É ridículo, mas homens não vêem!
- Mas como assim, tu tens mas não trazes a minha casa!? Então consideras que pode haver esse tipo de relação?
- Mas claro, as coisas não são só um lado, nem tudo é para casar!