sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Em Moçambicano II


Sai de casa e Moçambicano não pergunta se está tudo bem, diz aqui tudo bem não sei do seu lado. Não responde tudo bem, diz tudo bem, nada mal.
Moçambicano não conduz – dirige. Não tem TIR – tem camião cavalo. Não usa t-shirt – usa camisete.
Não sai – baza. Não vai para – baza a. Não vai ao – vai no. Não agarra – pega. Não conhece cana-de-açucar – mas cana doce. Não usa saco de plástico – tem plástico. Não tem um amigo há muito tempo – se conhecem dos times. Não tem namorada nova – anda a agarrar agora. Não usa colete – usa pulôver. Não tem telemóvel – tem celular. Não vai ao multibanco – vai no ATM. Não faz poupança – tem estique. Não demora uma hora – demora uma hora de tempo.
Moçambicano não diz sim – diz ya. Não confirma – levanta o sobrolho. Não diz ainda não – diz ainda. Não pergunta se já está – pergunta “já?”
E para jantar a mãe não mói amendoim – vovó pila. E em casa não tem um irmão mais novo que é drogado – tem um puto ket. E o pai não está a ver televisão – assiste tv. E não fica zangado porque o filho fuma – o velho zanga que ele smoka. E o irmão mais novo não cria complicações – tá a confusionar. E amigo não liga a alterar planos e ele fica sem saber o que fazer – mano matrecou, malta fica desprogramado.
Moçambicano não está sem dinheiro – tásse mal. Não vai para a marginal com os amigos – vai apanhar brisa. E não vai à praia – vai refrescar. Não faz exercício – exercita. E não namora – apanha esquina. E quando faz amor não falha – desconsegue de apanhar tuza.
E no fim-de-semana não sai da cidade – no final de semana viaja. E à tarde não tem um compromisso com portugueses – tem um social com uns tugas. E lá não faz pouco do amigo branco – manga do white. E não mima a amiga – baba a siss. E ela não tem batom brilhante nos lábios – pôs lips. E eles não lhe dizem que lhe que fica bem – rendem.
E à noite não vai à festa – vai à batida. Não vai à casa de banho – vai no banheiro. E não se arranja – tchuna-se. E no caminho não vai em excesso de velocidade – spida. E nas curvas não vira – guina. E a discoteca não está má – disco ta off. E não pedem dinheiro para a entrada – para entrar precisa taco. E não vai curtir – vai tchilar. E não dança – faz seus passos. E não provoca, ameaça e se envolve numa briga – agita, tchuça e faita. E não se engana – tchacha. Não bebe gin – bebe djin. E não tem feitiço – tem wasso wasso. E não está a ir – está a vir. E a meio da noite não ta bêbado – ta jazz. E no final da noite não vomita – manda Gregório. E não foge – dá gás. E namorada não envia um “por favor liga-me” – dama faz pleasecallme. E ao telemóvel não diz que vem – fala no celular “hei-de vir!” E não fica acordado a noite toda – amanhece lá.
Dia seguinte moçambicano não está de ressaca – tá de babalazi. E não falta ao trabalho – gazeta. E não telefona a avisar que não se sente bem ou que morreu alguém na família – fala “tou incomodado” e “tive infelicidade”.

2 comentários:

  1. olá
    quando puderes vê o que eu escrevi enquanto estive aí.
    do pouco que li, gostei muito!
    www.chocolate-branco.blogspot.com
    bjs

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