quarta-feira, 3 de março de 2010

um gone seguro


Eles olham-se, se encontram na night por acaso, trocam contactos, mandam sms e combinam tchiling. As coisas progridem bem - moçambicano não perde tempo! - mas quando menos espera ele chega.
O amigo da tuga.
Ele não conhece esse “amigo”, mas sabe que vai ficar na casa dela, e ele sabe, lá na casa só tem uma cama… Mas, moçambicano que é moçambicano não fica desprogramado, moçambicano ataca, rapta, convida, surge, oferece ajuda e, principalmente e absolutamente - fica brada do brada da dama!
Sexta-feira vão sair, dama convida, moçambicano aparece, mostra os bons places, demonstra os bons passos e mais importante que tudo, apresenta damas ao “amigo”. Night tá nice mas amigo tá off, avião, aeroporto, não sei mais quê. Dama tá a gramar da night, quer tchilar, dançar, beber. Dama insiste:
- Ficamos mais tempo - amigo vai dizendo:
- Vamos para casa - e moçambicano vai lembrando aquela casa pequenina, com uma só cama e...:
- Mais uma bebida? - ela sorri:
- Yap - Mais uma hora de olhares é teste à resistência do amigo, que cede:
- Podes ir deixar-me a casa? Tou cansado - dama disfarça entusiasmo:
- Ya, vou e volto que aqui tá nice - e moçambicano jinga:
- Eu também tou a ficar off, vou bazar - dama dropa amigo e smssa “bazaste?”, moçambicano responde “te apanho onde?"
Moçambicano guina, spida, agarra perna de dama e ela já sabe, procuram… não procuram um esconderijo, procuram um gone. Na cidade de Maputo gone é coisa perigosa, rara, por demais frequentada. Mas ele procura, nos mais populares, nos mais frescos, nos mais discretos, nos menos prováveis. E estaciona:
- Aqui está bom.
- Aqui?
- Sim, está bom, anda cá.
- Mas aqui… tem guardas ali, eu estou-lhes a ver.
- Qual é que é o problema? Ignora-lhes lá – ele e ela passam para o banco de trás e… damam, agarram, comilam, curtem. Está calor, e o calor só aumenta, e é aí, quando o calor está no seu máximo que ele surge. Surge de fininho, vestido de cinzento, o passo avança entre os sons e movimentos que pontuam o prazer, que embacia os vidros, que fazem vibrar o amortecimento do carro estacionado. Surge, e com o chamboco faz um bater seco, curto, suave mesmo. É o contraste com o ritmo acelerado do casal que os desperta, ele apercebe-se primeiro:
- Ysh, baby sorry lá, espera – abre o vidro – boa noite chefe.
- Boa noite, peço abrir a porta e sair por favor.
- … Hum… chefe… tem de ser… agora?
- Sim, agora. – ele olha para dama, para si próprio
- … Abrir a porta mesmo?
- Sim.
- … Hum… chefe… ok, tá nice. – ela passa para o banco, vestem-se, ele abre a porta
- Espera aqui, eu vou resolver. Chefe… - conversam os dois na rua, ela está nervosa, veste-se à pressa, penteia os cabelos ensopados de suor, senta-se e apanha a bolsa, procura não sabe o quê, os documentos? Lá fora a conversa continua, ela não consegue ouvir nada, ele volta:
- Alô, porque estás vestida?
- Como assim? Então… - ele apanha a sua pasta
- Vou pagar alguma coisa.
- Aceitam? Boa, nice e bazamos, tou pedir…
- Nada, vou pagar, chefe pede para estacionar mais lá e eles ficam connosco um bocado, é mais seguro.
- Como assim? Eles ficam? Mas…
- Compro uma hora, o que achas? Assim estamos à vontade.
- Mas, baby, eu… - ele sai lá para fora, paga, regressa e sorri:
- Interrompeu mesmo no momento, consegues concentrar-te de novo?
- Bom… ya, ok! – ela vai deitando uns olhares pela janela, eles estão lá, são quatro, sentados – ysh, baby, mas são tantos…
- O que é, estão a olhar?
- Sim, um deles.
- Deixa, não tira pedaço, anda cá! - passa o tempo, damo sai do carro
- Vais onde?
- Fica aí, vou apanhar contacto, temos mais uns minutos, podemos usar na próxima vez. Ei, chefe!

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