quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Conheces?


Chatamos no facebook, trocamos sms, falamos mesmo no bar. Mas moçambicano não se conhece assim.
Jantamos na mesma mesa uma vez, no trabalho cruzamo-nos no corredor. Frequentamos os mesmos sítios e temos amigos comuns, mas moçambicano não se conhece assim.
Leio os livros e os jornais, oiço as músicas na rádio e vejo os shows nas praças. Mas não, moçambicano não se conhece assim.
Moçambicano conhece-se no toque insinuante dos dedos, na elasticidade macia da pele do peito, na cor limpa e brilhante das coxas.
Moçambicano conhece-se nos lábios grandes de beijos, nas mãos cheias de bunda, no sorriso branco de dentes, no tom grave do riso solto.
No papo… ah, moçambicano tem papo!
Não faz pergunta e foge a respostas. Mas diz, fala, elogia, insinua e não insinua no duplo sentido da língua portuguesa - que como todos sabemos é traiçoeira - não, não é nos sentidos dúbios das palavras que o moçambicano se alonga, é o triplo acento de um olhar que transforma um simples “bom dia” na excitante forma da quase obscenidade. Elogiosa, sempre. És quente tu, seja quem fores. E sentes isso num piscar de olho cúmplice, num afirmativo levantar de sobrolho. Acção que confirma, que convida, que dá.
Moçambicano conhece-se na investida pélvica de uma passada. Na frescura espessa e doce de uma Laurentina. Num gole de cerveja preta, claro.
Moçambicano conhece-se na dormência grossa que o piri-piri sacana deixa na língua. No som batido dos tambores, sim, no desafino da timbila.
É verão. Chove. E o moçambicano conhece-se no pingar grosso que aparece de surpresa, no sol forte que vem sem aviso. Na frescura do vento que despenteia cabelos e descobre pernas. No som do agitar das folhas dos coqueiros. No bafo quente do vento suão que de noite nos surpreende nuas.
Moçambicano conhece-se no “não” sempre ausente. No eterno concordar.
Moçambicano conhece-se no improviso, no desconseguir sorridente de cada tentativa. Moçambicano conhece-se na porta aberta da hospitalidade, no olhar directo do estudo. Moçambicano estuda, sim, olha para fora. Observa-te sempre, e o caminho que faz tem base no que vê, no que mostras.
Ah! e para moçambicano mostras, mostras sempre, é desarmante a generosidade do que aprecia, é cativante.
- Estás bonita hoje, sapatos vão bem com teus cabelos.
- ? Ah! Ah! Ah! - Moçambicano conhece-se na prontidão do papo, na doçura sempre dependurado nos lábios generosos, no desejo em reflexo nos brilhos molhados dos olhos, no esboçar constante de um sorriso nas faces.
Moçambicano conhece-se na água do coco, morna e suave como saliva.
Moçambicano conhece-se na doçura e maciez de uma manga madura. Na dureza aparente de uma massala, na acidez doce de um maracujá.
No corpo.
- Aquele rapaz que parece uma estátua era teu namorado?
Moçambicano conhece-se no desenho sinuoso dos braços, no redondo perfeito da nuca, na testa brilhante, no nariz redondo, nos lábios cheios. No peito desenhado, nas costas fortes de músculos curtos e duros, nas pernas atléticas…
Sim, Moçambicano conhece-se no prazer, é aí que se conhece.

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