quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Da confiança


No primeiro encontro ele chega com confiança. Olhos nos olhos, quase mão na mão:
- Sabes, nós os dois, eu e tu, ligamos. Não tens maneira de fugir, nós ligamos.
E depois com confiança o moçambicano organiza, convida, elogia, apresenta, baba...
Com os bradas falam sobre as relações e as excepções, sobre os ciúmes e os cortejamentos:
- Estás a dizer que ela não é ciumenta? Ela não é ciumenta porque está a concorrer para as eleições! Quando ganhar? Vai mudar, vais ver!
- Ya! Mulheres mudam quando casam! Aquela que tá lá em casa, quando éramos namorados – baixa um pouco o tom de voz e soletra - a-do-ra-va sexo anal, agora que casou dói!
- Ya, depois diz que italiano é que é romântico!
- Joana, diz lá, é verdade isso?
- Nada, Joana gosta é de moçambicano, eu sei.
- Nós sabemos.
– Estás a rir, fala lá! Só ri ela.
- Ah, vamos ler no xikwembo isso aqui!
- Fala, moçambicano é bom para cama né? Mas festinhas e beijinhos é italianos é isso? Fala pa…
- Mas sabes, isso é porque estás traumatizada com moçambicanos! Eu sou diferente. Eu não faço as coisas assim, não é verdade! Comigo vais apaixonar tu.
- Tas m’ameaçar?
- Nada, não preciso.
- Problema são rótulos! Sabes disso né?
- Ya! Porque mulher e homem, é culpa dos dois, quando namora ou quando casa, enfim, quando chega compromisso, as pessoas mudam!
- Ya, logo reclamam: “porque não fazes isso, sou tua namorada eu!”. E dizem “mas eu vivo contigo, é diferente!”
- Sim, é diferente, agora já não a vês quando queres ou porque queres, vês porque vive lá em casa, só!
- Sim, e cobram! Amor não se cobra! “Porque não me mandaste mensagem hoje?” e “como passas todo um dia sem me ligar?” E “não tiveste saudades minhas”… hiiiiii”!
- Complicam muito.
- Joana, amor.
- ?! O quê!?
- Sabes que eu gosto de te chamar de amor… não posso? Então vamos ver, nós aqui somos o quê? Eu e tu.
- Ui, tá a querer catalogar, não cataloga isso! Aí estragou!
- Nada, não é isso, é para sabermos que é!
- Ei, casamento é essa ideia, é falta de confiança casar, isso não é nice.
- Joana, tu sempre foste assim?
- Assim como?
- Confusa. Vocês pequeninas sempre são assim, mania que são duras! Amam mas são tuff não dizem! Tu tás a gostar de mim, mas não admites, armada em forte não dizes nada, mas vais cair, tu que me vais pedir em casamento tu!
- Mas então não dizias que os rótulos é que é mau?
- Joana tu tens de aprender uma coisa, gostas de ser selvagem né? Não me estás a confiar. Mas aprende que cada bom cavalo tem um bom jockey…

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