segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Moçambique in love


Desde que cheguei que são muitos, e só vão aumentando! E é tão constante que acho digno de nota, e alguma coisa deve ser feita!
Na rua estaciono o carro, os rapazes comentam:
- Esta senhora!!.. Hi! Marido não devia deixar andar sozinha – e quando saio,
- Senhora, posso te cantar uma letra?
- És músico?
- Estou a pensar ser, mas quero te cantar esta minha letra, se gostares eu gravo. Porque… estou apaixonado por ti.
Na disco ele observa, de longe, exibe os passos da moda, depois aproxima-se para convidar a uma passada e na segunda dança – que não recuso, dançar com um moçambicano é sempre um prazer - revela:
- Sabes? Estou apaixonado por ti.
E de repente todos parecem Hermínio nas “declarações de um apaixonado”
Tu bem sabes que eu sou louco por ti
Que eu só vivo para te amar
E que eu não posso te trocar por nada
Que és a minha doce amada
Minha bebé
Que és o melhor que me aconteceu
E brilhas mais que a estrela lá no céu
E és para mim como uma jóia rara
Tua beleza miúda é tão cara

Eu não entendo! Porque mentem tanto os homens?
Num dia em que a insistência era maior ainda apresentei o amigo que me acompanhava como meu namorado, mas isso não ajudou nada, o rapaz seguiu em frente:
- Muito prazer, posso falar com ela, não posso? - E passado algum tempo de papo:
- Posso ficar com o teu contacto?
- Ei, ele não deixa. – digo eu, apontando para o meu falso namorado.
- Mas ele não está a ouvir, dá-me lá, eu prometo que não ligo para ti, só mando sms. – em jogo de fiel e pudica denuncio a situação ao falso namorado, ele avança e representa:
- Olha lá, então queres o número da minha namorada? Gostavas que eu pedisse o da tua?
- Não tem problema, é Lígia, 82…
Mas logo que a relação se estabelece o avanço para o “estás fora de casa”, é bem rápido
Às vezes me pergunto ai o que se passa
Será que a minha menina tem outro namorado
E quando toco no assunto tu mudas
Inventas mil estórias e me acusas
De coisas que não fiz
Coisas que nem eu sei


E depois é senso comum que o homem não suporta tudo – embora para a mim a verdade é que não suporta nada – mas mesmo quando levantam a mão todos sabemos as atenuantes dos crimes passionais e quando as mais corajosas reagem em fuga o tema “arrependimento” ainda é mais rápido a aparecer!
Ontem bebé sonhei contigo
Quando acordei não estavas aqui
Como aguentar tanto castigo
Se a nossa casa é triste sem ti
E o nosso quarto está tão vazio
Na nossa cama faz tanto frio
Sinto o coração a apertar a doer
Porque sem ti não sei viver
Eu sou um homem sou humano eu não sou perfeito
Baby perdoa esse meu jeito
Não faz assim

E aqui a mulher tudo perdoa, tudo negoceia, tudo tem volta em nome do “amor”. Porque no fundo a traição, a poligamia, tudo é normal, masculino, tradicional.
Saio com um amigo, que me apresenta outro que por sua vez me encontra sozinha e me pede o contacto, e que segue para me convidar para sair. E o “brada” perdoará?
Saio com um amigo, trocamos mensagens, passados dois dias recebo sms do telefone dele: “não manda mas msg para mim”. Ainda brinco:
- Isso é um pedido ou uma queixa?
Mas que não, não foi ele, ok… então foi a namorada não?
- Não, não tenho namorada, ouve, eu sei quem foi mas não te preocupes, não é nada.
E depois de dois encontros já me pedem em casamento e já ligam a qualquer hora disparando a pergunta:
- Tás aonde?
Mas se é que estavas a jantar
Porquê quando liguei não me atendeste
À sms não me respondeste!

O problema é que aqui… os homens apaixonam-se com muita facilidade! As palavras amor, paixão, casamento e compromisso saem-lhes da boca a velocidade estonteante.
De onde vem o amor? Eu não sei mas ele existe, não?
Mas assim? Não vai aparecer!


publicado no jornal @verdade

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